PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
Cuide, invista e desenvolva sua organização. Cuide, invista e desenvolva o seu pessoal.
Meio a era digital e do empreendedorismo surge uma pergunta: como a psicologia clínica pode se inserir nisso? Ou melhor, como ela pode contribuir? Não estaria ela correndo justamente na direção oposta?
Embora essa seja uma pergunta cara e que gera controvérsias entre os colegas, com segurança afirmo que não: a psicologia não corre na direção oposta.
A psicologia clínica não diz respeito apenas a atuação no consultório particular, não é sinônimo de psicoterapia ou análise individual. A psicologia clínica, no sentido originário da palavra, permite se desdobrar em qualquer cenário ou situação em que ela dedique olhar, abrir a escuta atenta e de cuidado. Dentro dessa ética de atuação, o psicólogo tem muito a contribuir às organizações como clínica ampliada.
Muito tem se falado que o sucesso de uma organização depende de como estão seus funcionários e o bem estar das pessoas que trabalham ali. Não é mistério que o sucesso de uma organização depende daqueles que fazem a organização, ou seja, seu time de profissionais. Dedicar ao desenvolvimento e cuidado do seu time é a chave para o fortalecimento do corpo organizacional. Investir em um bom profissional que cuide dessas pessoal e das relações organizacionais significa investir na saúde da organização, pois ela é um organismo vivo, composta por todas as interrelações que impactam o seu funcionamento.
A(o) psicóloga(o) clínica(o) é a(o) profissional que pode ouvir os ecos surdos da organização para poder:
- diagnosticar as relações e os processos doentios;
- sinaliza-los;
- auxiliar no desenvolvimento de estratégias de intervenção afinadas com os participantes do processo
- intervir nos nós conflituosos que a prejudicam junto aos atores institucionais.
Intervir nesses nós atua no sentido do desenvolvimento interrelacional e organísmico, trazendo benefícios para os atores e para a instituição. Envolver os atores em todos esses processos é fundamental para multiplicar o alcance das intervenções bem como educar e transformar a quem dela participa. O processo é sempre vivido na coautoria da relação, e não um procedimento imposto de cima a baixo. Um processo imposto não educa, não promove transformação e não implica os participantes como autores; ao contrário, distancia, submete e pode gerar insatisfação e desconforto.
É por isso que um "RH inovador" só é possível na interface de profissionais com uma leitura clínica fina e apurada. A cada vez, percebe-se como todo este processo é artesanal e exige preparo. O psicólogo é o profissional especialista nesses cuidados.
Os objetivos e metas da organização deve estar bem esclarecidos para poder atrair pessoas com um perfil afinado com o da organização. Isso garantirá a sustentação do clima institucional,
atores institucionais em sintonia com as próprias motivações em compasso com as motivações global do organismo. Assim é possível construir um ambiente coeso e colaborativo.
Por mais que o capital humano desses empreendimentos seja enxuto no primeiro momento que se lança no mercado, ou mesmo por contar com uma prestação de serviço digital, com foco de atuação tecnológica, em alguma medida sempre haverá um fluxo de relacionamentos necessários para o acontecer do empreendimento. Ninguém faz negócios sozinho. A relação humana é anterior a fundação de uma instituição, ela é fundante do ser humano, que é inevitavelmente um ser social. Se o empreendimento cresce e se expande, novas pessoas são convidadas a contribuir para o time, cresce o corpo organizacional, as relações se multiplicam.
O RH e Gestão de Pessoas é uma conhecida área, geralmente composta por psicólogos, que faz um trabalho importante e necessário dentro das empresas. Tenho grandes colegas que atuam nessa esfera e compreendo que, além de serem excelentes profissionais da psicologia, atuam com destreza na interface como gestores. Não à toa a nomenclatura.
Mas existe ainda uma outra possibilidade de trabalho da psicologia. É uma proposta de intervenção que se alinha ao RH e à Gestão de Pessoas, sedo um trabalho diferente do deles:
somente por estarem distantes da gestão é que podem assumir tais funções e observar na fronteira os processos vigentes ali.
A forma como as pessoas se desenvolvem dentro de uma organização afeta seus modos de vida e se dissemina com impactos na vida diária. É o mesmo que se pensar como os modos de organizações sociais atravessam as dinâmicas de funcionamento das instituições. Portanto, no plano de seu alcance na esfera macro, trata-se de um dispositivo de impacto social.